quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Descobertas

Não vou falar de quem eu sou, mas das coisas que eu acabei descobrindo com o passar do tempo.
Descobri que todos julgam.Eu, vc,o padeiro, o motorista, a florista, todos. Nascemos com um dispositivo que nos engana, que nos dá a certeza arrogante de que temos o poder de julgar e brincarmos de semi-deuses e mesmo o tendo, o negamos. Pq vc fala que é julgado, mas nunca assume que o faz também.
Descobri que ser honesto causa espanto porque já é anormal.
Que a TV tem cada dia que se passa menos coisas proveitosas e que só causou o mal.Outro dia, falando com uma amiga, percebemos que quando não tinha TV em todas as casas ,os casamentos duravam mais, tinham bodas de prata e de ouro. Porque adultério não era normal, como na TV. Porque o amor perfeito não era aquele com lindas canções e flores e gente linda como nos comerciais de margarina.Porque ninguém precisava copiar um modelo de felicidade para estar dentro do padrão imposto pela sociedade. As pessoas viviam e amavam e consumiam coisas individualmente, não pela massa.
Descobri que frustrações amorosas e carência, tem criado seres em série sem auto estima nenhuma.Pessoas desesperadas por carinho e atenção que entregam o que tem de mais precioso, que é seu sentimento, em troca de miúdos. Em troca de palavras sem emoção, sexo sem paixão, ligações vazias, abraços largos, olhares sem brilhos. Querem alguém, mesmo que esse alguém o faça mais estar em queda do que nas nuvens e pior : acreditam não poderem mais caminharem sozinhas.
Descobri que o dinheiro tem se tornado um Deus cada dia mais perigoso, que quanto mais o tem, mais alienado se fica. Quando se tem ele no seu altar, menos amigos sinceros se tem, menos saúde, menos liberdade, menos paz e muito, muito menos amor.E infelizmente, o mundo inteiro está voltado a te-lo cada vez mais.
Bebida não é mais diversão, é fuga. Droga não é entorpecente, é remédio.Amizade não é mais cega, é troca de interesses. Amor não é eterno, é brega.
Descobri que não importa o que vc faça, as pessoas não se entregam. Não amam até esvair-se, não colocam uma venda nos olhos quando vc pede apenas que confie em vc para guia-las. Não sonham mais acordadas. Tem medo de declarações corajosas e quase invariavelmente não falam o que sentem.
Mas olha, descobri também que não tem melhor sensação no mundo do que chegar em casa e ser recebida por uma criatura miudinha, que te faz uma festa, que entre beijos e abraços, te garante que o mundo é maravilhoso, simplesmente pq ela existe. A Vivi , minha sobrinha, faz exatamente isso e não entendo mesmo como antes me atrevia achar q eu era feliz, sem q ela existisse.Hj sei o que é felicidade, é ter a linda Vivi por perto.
Eu descobri que uma boa conversa com um amigo pode nos salvar quando pensamos que nosso mundo simplesmente está para acabar. Que um colo afetuoso de mãe pode curar qualquer dor que sentimos e mais ainda: que são seres adivinhatórios.Elas nos ouvem com o coração, sem nada falarmos e enxergam com os olhos qualquer coisa que julgamos poder esconder.
Que uma casa com flores frescas faz milagres ao espírito, que orações feitas com o coração sempre são ouvidas, pq Deus está sempre Lá, pq Existe e é Bom.Que a Lei do Retorno é a mais certa das Leis do Universo, que colhemos sim o bem qdo o praticamos, embora insistimos em não enxerga-lo e que de uma forma ou de outra com certeza,sempre pagamos por pensamentos e ações ruins que tomamos. Que a Lei da Atração funciona, que nossos pensamentos são responsáveis pelo que somos e pelo que temos.
Descobri que família é a melhor estrutura que um ser humano pode ter, é ela quem faz com desenvolvamos o caráter que nos segue pelo resto da vida.Que temos que valorizar e amar as pessoas enqto há vida, pq a morte é um castigo eterno em q nada mais podemos fazer.
Que uma boa viagem pode nos revigorar, que uma ligação inesperada pode valer nosso dia, que as lembranças de um amor bem feito podem garantir dias de brilho nos olhos.
Que palavras como por favor, obrigada e desculpa são breves, mas eternizam o respeito e evitam uma série de arbitrariedades.
E finalmente, descobri que muito embora tenhamos motivos para tropeçar e desanimar, as palavras de Renato Russo, ainda fazem muito sentido:
“A humanidade é desumana, mas ainda temos chances. O sol nasce pra todos, só não sabe quem não quer...”

Meu velhinho

Hoje vou falar de alguém muito especial.

Meu Tato estava a pouca distância de mim e começou a cantarolar uma música de Nelson Gonçalves e alguém elogiou o timbre da voz dele .Sabe o que ele disse: “ Isso não é nada, você tem é que ver meu pai cantando.”
Ouvi, sorri e viajei....Que pena, o amigo dele não ouvir meu pai, porque ele já se foi. “Precisa ver meu pai”...como se ele estivesse presente ainda, olha só.Engraçado, dói falar de quem tanto se ama conjugando no passado.
Sr. Sérgio Fonseca dos Santos.Meu pai.
Era carrancudo, cismado, cara de bravo e voz grave, voz de tempestade.Quando ele ralhava conosco bastava olhar que já tremíamos e quando minha mãe ameaçava : “ Ah...deixa seu pai chegar, vou falar tudo pra ele”. Pronto, acabava o dia só de imaginar a bronca...rs. Tocava um saxofone como ninguém,tinha um “que” para a boemia....um grande “que” na verdade..Minha mãe diz que puxei a ele totalmente nesta parte (por que será?rsrs)...
Era cheio de normas e regras... “Filha minha não faz isso, filha minha não faz aquilo”.No começo estranhávamos essas tais regras, depois acostumamos, passamos a respeitar e finalmente entendemos.Entendemos que sem elas não teríamos formação tão boa de caráter, talvez não fossemos uma família tão unida e talvez não passaríamos adiante tais valores.Hoje sabemos que nosso pai e nossa mãe fizeram um lindo trabalho.

Sinto falta do meu pai todos os dias. Falta de quando ele brincava comigo, de quando me pegava pra dançar um samba quadradinho, quando tentava me ensinar samba rock.De quando ficava ali no lugar em uma cadeira dele no canto da mesa, calado, mas presente.Às vezes passava o dia todo no quarto ouvindo rádio, escrevendo e fumando....eu, que sempre fui meio serelepe, nunca me intimidei pelo silêncio dele...Abria a porta do quarto e logo dizia “ Oi velhinho!” e ficava puxando papo, mesmo que ele não respondesse, mesmo que ele quisesse continuar no seu silêncio.Era muito bom saber que ele estava ali.

Morte é uma coisa estranha, né? Me lembro que o dia 21/11/2003 em que ele se foi, foi o pior dia da minha vida, a dor era avassaladora...Mas ao voltar pra casa, observei que lá fora a vida está do mesmo jeitinho. Pessoas nas padarias e nos bares, olhando o relógio, conversando, destravando carro, varrendo ruas, adolescentes saindo da escola rindo, mães com crianças no colo tentando pegar o ônibus, ambulantes vendendo coisas...Fiquei um tempão observando e pensei : Caramba, ninguém nem notou que ele não está mais aqui, que ele não verá mais nada disso.Minha vontade era de parar aquelas pessoas e dizer : Gente, meu pai foi embora, a vida não pode ser mais a mesma.
Mas nada pude fazer , nem para prende-lo aqui com a gente, nem para avisar o mundo da minha dor.Descobri que nada somos, que o mundo não pára para te esperar se você, por um infortúnio, precisar diminuir o passo...Descobri que a morte não espera terminarmos um livro, não espera você receber uma ligação tão esperada, não espera você fazer uma viagem de navio ou ver uma última sessão de cinema.
Por isso que eu digo repetidas vezes “eu te amo” com vontade a quem eu acho que mereça ouvir , que abraço as pessoas que gosto sempre, que aproveito minha família e em especial minha mãe o máximo que eu posso.

Ah, Sr. Sérgio....Sr. Sérgio...que saudade que eu tenho.Mas fico feliz por ter participado de bons anos da minha vida e de ter me deixado a melhor herança que eu poderia ter : caráter.
E olha , sua baixinha aqui (como costumava me chamar),te ama todos os dias....E ainda que tenha levado boa parte de mim embora contigo , continuo caminhando , batalhando e tentando ser todos os dias uma pessoa melhor, para que onde quer q esteja se orgulhe de mim!

Saudade...

Tenho saudade...

Tinha uma loja q se chamava Mappin, minha mãe levava a mim e meu irmão pra passear , mas o q eu mais gostava era do lanche que tinha no 4º andar da loja.Um cheesburger enrolado num papel com o logo da loja, os assentos eram estofados vermelhos...quase consigo me lembrar do cheiro do lugar.

Eu deveria ter uns 9 anos quando minha mãe ia trabalhar e me deixava cuidando do meu sobrinho.Ficávamos na sala assistindo Xou da Xuxa, eu brincava de jogar cartas pra cima, assim como ela fazia e ouvia todos os discos....passávamos horas lá quietinhos e brincando, com a porta trancada, nada no mundo do lado de fora nos tocava. Faz 20 anos, hoje o Fe já tem uma filhinha até.

Eu descia na rua da minha prima e passava o domingo todinho lá...Jogando vôlei, tomando banho de mangueira e quando chovia, ficávamos disputando quem ocuparia o lugar em que caía mais água da calha...Tenho saudade de com 15 anos não ter maldade, uma paquera ou outra, mas o gostoso mesmo era sentar na calçada e ficar rindo sem motivo certo, brincar, conversar...td era tão verdadeiro.

E a faculdade?Meu Deus! A faculdade....essa sem dúvida foi a época mais feliz da minha vida e a mais saudosa.Tenho saudade dos bate papos na escada, da preguiça de subir pra aula qdo dava uma parada no bar. Saudade até da correria da monografia e principalmente de todas as amizades q fiz lá, que amo até hoje e sempre.

Sinto muita falta, mas muita mesmo de álbum de fotografia, de revelar fotos...Daquelas pessoas que passavam nas casas pra tirar foto de criança e fazer álbuns diferentes, daqueles que os pais mostram depois de anos pra amigos, namorado...Saudade de quando chegavam cartas e não e-mails rápidos e gelados.De "Parabéns" pelo telefone e não em msg no orkut, de discutir com alguém pessoalmente e não pelo msn. Sinto saudade de qdo as pessoas se conheciam pessoalmente e não somente vitualmente.

Saudade de qdo o cinema custava R$5,00 e q a pipoca não era o preço de uma refeição.E de quando as pessoas morriam mais de velhice.De quando ng precisava fazer "marketing pessoal", as pessoas eram o q eram e gostavam dela por isso.Saudade de boas notícias no jornal.De quando as pessoas não escodiam tto o sorriso.

Sinto saudade de pisar em folhas secas na rua pra fazer aquele barulinho, de andar com menos pressa, de ver meus amigos mais freqüentemente.Saudade de quando o tempo nos dava mais tempo.De qdo sentíamos mais os aniversários, os Natais, tínhamos mais esperanças porque afinal, tínhamos tempo pra criar esperanças. Hoje mais parecem sucessões de reprises quando se vai de um ano ao outro, do que uma página limpinha de vida.Queria sonhar mais como antigamente.Deitar e numa noite tranqüila ter mais sonhos, que o cansaço e o sono curto não tirassem esse prazer.

Tenho saudade de conquistas, de paquera, de pernas trêmulas, de frio na espinha,de noites de suspiro.O que temos hoje? Beijos em bocas sem nomes, toques num corpo sem rosto, prazer na pele e não na alma....Queria mais casas térreas com jardins e menos prédios,menos fast-food e mais almoços em família (isso em tenho ainda, graças a Deus), mais abraços e muito menos torpedos.

E sabe de uma coisa?É melhor que eu aproveite esse instante de vida q já me foge, antes que eu morra de saudade dele tb...