quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Meu velhinho

Hoje vou falar de alguém muito especial.

Meu Tato estava a pouca distância de mim e começou a cantarolar uma música de Nelson Gonçalves e alguém elogiou o timbre da voz dele .Sabe o que ele disse: “ Isso não é nada, você tem é que ver meu pai cantando.”
Ouvi, sorri e viajei....Que pena, o amigo dele não ouvir meu pai, porque ele já se foi. “Precisa ver meu pai”...como se ele estivesse presente ainda, olha só.Engraçado, dói falar de quem tanto se ama conjugando no passado.
Sr. Sérgio Fonseca dos Santos.Meu pai.
Era carrancudo, cismado, cara de bravo e voz grave, voz de tempestade.Quando ele ralhava conosco bastava olhar que já tremíamos e quando minha mãe ameaçava : “ Ah...deixa seu pai chegar, vou falar tudo pra ele”. Pronto, acabava o dia só de imaginar a bronca...rs. Tocava um saxofone como ninguém,tinha um “que” para a boemia....um grande “que” na verdade..Minha mãe diz que puxei a ele totalmente nesta parte (por que será?rsrs)...
Era cheio de normas e regras... “Filha minha não faz isso, filha minha não faz aquilo”.No começo estranhávamos essas tais regras, depois acostumamos, passamos a respeitar e finalmente entendemos.Entendemos que sem elas não teríamos formação tão boa de caráter, talvez não fossemos uma família tão unida e talvez não passaríamos adiante tais valores.Hoje sabemos que nosso pai e nossa mãe fizeram um lindo trabalho.

Sinto falta do meu pai todos os dias. Falta de quando ele brincava comigo, de quando me pegava pra dançar um samba quadradinho, quando tentava me ensinar samba rock.De quando ficava ali no lugar em uma cadeira dele no canto da mesa, calado, mas presente.Às vezes passava o dia todo no quarto ouvindo rádio, escrevendo e fumando....eu, que sempre fui meio serelepe, nunca me intimidei pelo silêncio dele...Abria a porta do quarto e logo dizia “ Oi velhinho!” e ficava puxando papo, mesmo que ele não respondesse, mesmo que ele quisesse continuar no seu silêncio.Era muito bom saber que ele estava ali.

Morte é uma coisa estranha, né? Me lembro que o dia 21/11/2003 em que ele se foi, foi o pior dia da minha vida, a dor era avassaladora...Mas ao voltar pra casa, observei que lá fora a vida está do mesmo jeitinho. Pessoas nas padarias e nos bares, olhando o relógio, conversando, destravando carro, varrendo ruas, adolescentes saindo da escola rindo, mães com crianças no colo tentando pegar o ônibus, ambulantes vendendo coisas...Fiquei um tempão observando e pensei : Caramba, ninguém nem notou que ele não está mais aqui, que ele não verá mais nada disso.Minha vontade era de parar aquelas pessoas e dizer : Gente, meu pai foi embora, a vida não pode ser mais a mesma.
Mas nada pude fazer , nem para prende-lo aqui com a gente, nem para avisar o mundo da minha dor.Descobri que nada somos, que o mundo não pára para te esperar se você, por um infortúnio, precisar diminuir o passo...Descobri que a morte não espera terminarmos um livro, não espera você receber uma ligação tão esperada, não espera você fazer uma viagem de navio ou ver uma última sessão de cinema.
Por isso que eu digo repetidas vezes “eu te amo” com vontade a quem eu acho que mereça ouvir , que abraço as pessoas que gosto sempre, que aproveito minha família e em especial minha mãe o máximo que eu posso.

Ah, Sr. Sérgio....Sr. Sérgio...que saudade que eu tenho.Mas fico feliz por ter participado de bons anos da minha vida e de ter me deixado a melhor herança que eu poderia ter : caráter.
E olha , sua baixinha aqui (como costumava me chamar),te ama todos os dias....E ainda que tenha levado boa parte de mim embora contigo , continuo caminhando , batalhando e tentando ser todos os dias uma pessoa melhor, para que onde quer q esteja se orgulhe de mim!

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