terça-feira, 25 de agosto de 2009

Eu vejo flores em você.(parte 6)

Alguns dias mais tarde, Lucila tentou convencer o marido, em uma longa conversa de que o amor acabara. Que não queria desapontá-lo ficando com ele parcialmente, que preferia ser justa e ir partir.Abriu mão de qualquer direito financeiro e garantiu que não lhe aborreceria.
Inflamado de dor e cólera, jurou que se ela partisse, ele mesmo daria cabo da própria vida,que não permitiria que levasse o pequeno João, pois era a única coisa boa, fora ela, que lhe daria sentido à vida.

A discussão tomou toda a madrugada e ela decidiu ficar por mais um tempo.

Ao se encontrar novamente com Mauro, relatou o que acontecera.
- Fuja.
- Não sou mais adolescente, por favor, Mauro.
- Estou falando sério. Fuja, venha para cá com o João. Fique aqui até ele se acostumar com a idéia, só para ele ver que não será o fim da vida de ninguém.
- Vc só pode estar brincando.
- Nunca falei tão sério em toda minha vida. Ele não consegue imaginar-se sem você, prove a ele que não é o fim do mundo. Fique fora por uma semana, quando estiver longe, avise-o para que não se preocupe e depois regularize a situação. Você está sendo franca e honesta e está adiantando de que? Não podemos mais adiar. Vamos fazer isso, Luli.
- Vc acha mesmo que será preciso esse extremo?
- Sexta-feira. Arrume algumas coisas suas e do João e venha para cá depois que pegá-lo no colégio. Fiquem aqui, eu chegarei no começo da noite porque tenho alguns clientes no Centro. Tudo dará certo.Ei, olha aqui: tudo ficará bem, apenas confie em mim.

Sexta-feira, Lucila levantou-se logo cedo e estudou todo o apartamento.Reviveu mentalmente alguns Natais, quando o adquiraram, quando chegou da maternidade com o bebê. Porém, tudo ficou no passado e Mauro estava certo, ela não tinha culpa. Apaixonara-se. Que culpa pode carregar quem ama incondicionalmente?
Pegou pouca roupa dela e da criança.Ajeitou em uma bolsa que não chamava muito a atenção e cuidou para que tudo ficasse em ordem.Sentou-se e tentou escrever um bilhete, as idéias vinham e iam. O que escrever a quem se abandona?Qual seria a punição que lhe seria dada por pisar assim em alguém?

“Henrique,

Tudo que espero é que um dia possa me perdoar e sobretudo me entender.
Não sei sobre o tamanho do meu pecado, mas pecado maior seria nos enterrarmos numa mentira.
Mandarei notícias.
Fique bem.

Lucila”



Lucila pegou a bolsa, olhou em volta, trancou a porta e chorou.
Depois te ter pego o filho na escola, explicou-lhe de maneira sutil que algumas coisas mudariam, que ficariam um pouco longe de casa e que ele adoraria ir para uma casa nova, com brinquedos novos, jardim e que o novo amigo da mamãe adorava pizza, pudim de chocolate e que tinha um vídeo-game maravilhoso.
Crianças criam mundos alheios aos nossos e João em silêncio,deve ter criado uma mistura de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” com algo parecido com um “Playland”.Concordou.

Chegaram na casa às 17:40h. Trouxe algumas coisas do mercado e começou a esvaziar as sacolas, enquanto João conhecia o espaço, distraiu-se com algo.
Lucila pôs o vinho na geladeira, cozinhou frango com aspargos e arroz branco. Fez uma salada verde e ajeitou a mesa do jantar.Às 20:00h, alimentou o filho e ficou esperando pela chegada de Mauro.
Tentou ocupar o tempo, arrumando os armários e as gavetas. Foi até o jardim e retirou alguns plantas mortas e conversou com as mais miudinhas.
Eram 22:25h quando colocou João na cama e após uma série de ligações, tentou novamente ligar para amado. Caixa Postal.
Ficou na sala e acabou cochilando, deu-se conta da hora quando despertou: 04:10h da madrugada. Preocupou-se mais.
Tudo passava em sua cabeça, todo tipo de pensamento ruim,mas rezava para que nada de ruim tivesse acontecido.
Amanheceu e Mauro não chegou. Concluiu que alguma coisa tinha acontecido ou que talvez ele tivesse desistido. Se arrependeu por ter ido,julgou ter sido uma idéia insana.
09:00h arrumou o filho e resolveu voltar, não fazia sentido ficar lá apavorada.


Chegou em casa e o marido a recebeu calorosamente, mas não falou sobre nada. Nem do bilhete, nem do sumiço.Chamou o filho para brincar e quando estava saindo agradeceu:“Obrigado por ter voltado”.
[...continua...]

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