terça-feira, 25 de agosto de 2009

Eu vejo flores em você.(parte 7)

Já perdera a conta de quantas vezes havia ligado para Mauro.Resolveu mais tarde pegar o carro e passar em sua rua para checar alguma coisa. O fez e nenhum movimento que despertasse a atenção. Nada. Aflição.Sentiu toda a aflição de uma só vez.
Não pregou os olhos na madrugada de sábado.
Domingo antes de fazer o café, outra tentativa no celular.Uma voz feminina atende.

- Por favor, o Mauro.
- Quem é?
- Uma amiga dele...ãh...Lucila.
- É vc, não é?
A voz não exprimia raiva, nem desprezo. Soava fria.
- É vc que o transformou?
- Ele está?
- Ele ia ao seu encontro na sexta, é isso ?
- Sim, mas quero falar com ele, por favor.
- Não será possível. Mauro está morto.
Lucila ficou em silêncio e sentiu gelar sua espinha. Tremia de horror e rezava mentalmente “Não Deus, por favor, Deus não permita, Deus, me ouça!”
- Ele estava na estrada saindo da cidade ,ele perdeu o controle do carro e chocou-se de frente com uma carreta. Morreu na hora.
- Meu Deus.....
Lucila sentou no chão da cozinha chorando compulsivamente.



- Eu sinto muito. O enterramos ontem no cemitério Bom Jesus.Sinto muito por tudo.

Ela largou o telefone no chão e chorava cada vez mais, agora deitada encolhida no chão.Foi nessa hora que descobriu que também havia morrido.
Obrigou-se a vestir e conferir o que tinha ouvido.
Pediu pelo nome dele no cemitério e deram o número do túmulo, indicando-lhe o caminho.
Ajoelhou-se na frente de algumas flores e entre soluços, disse:

- Vc precisa me dar essa resposta agora, juro que será a última, meu amor. Só essa. Me explica porque isso aconteceu com a gente. Por favor, Mauro, me diz. Não posso ficar aqui sozinha, peloamordedeus....O que vai ser agora? Nossa vida...Mauro, eu fui. Eu estava lá, eu juro que te esperei lá, quietinha. Por favor, me diz que não está acontecendo isso...O que eu faço com nosso pequeno jardim?E com os projetos que estão lá na sua estande? Meu Deus...Vc prometeu que ficaria perto de mim, que ficaria bem ao meu lado. Eu confiei em você desde quando bati meus olhos em você.
Nada mais importa agora...nada mais...Que dor. Nossa Senhora, que dor.Nunca imaginei que existisse dor assim.Quem vai rir das minhas brincadeiras sem graça? Quem vai cantar música brincando no meu cabelo até que eu pegue no sono? Quem vai me abraçar agora? Não quero mais viver, me deixa ir embora com vc...Egoísta. É isso que vc é, foi embora e nem se despediu...nem me levou com vc. Eu iria, eu juro que iria.Sempre fui quando chamou.Eu morreria junto com vc.Mauro, Mauro...me escuta...Olha só, o amor que vivemos não era nosso, não é querido? Não poderia nos pertencer. Fomos castigados por experimentar um sentimento divinal. Podemos fazer um acordo e começar de novo, amar menos, sermos mais contidos...Deus, me ouça. Traga-o de volta e juro não amá-lo com todo meu coração. Juro que será diferente....Tudo bem, eu entendi, acabou não é mesmo? Então será assim...já que não pode voltar, sou eu quem vou...Me espera porque logo vou me encontrar com você.

Há quem diga que Lucila de uns tempos para cá anda agindo estranhamente. Não fala com mais ninguém, abandonou as tarefas. Fica num quarto escuro ,às vezes se desespera e chora aos berros. As más línguas até dizem que ela tentou o suicídio sem sucesso.O marido tenta todos os tratamentos possíveis, mas ali já não está mais Lucila.É agora uma carcaça sem motor.


O que todos não sabem é que tudo agora é em vão.

Lucila foi enterrada junto com seu amor, no momento em que ele a deixou.

[o desfecho é na parte 8, a seguir]

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