terça-feira, 25 de agosto de 2009

Eu vejo flores em você.(parte 3)

Pensava em tudo isso enquanto trocava os lençóis da cama de seu quarto, parou em frente ao espelho de corpo inteiro que fica pendurado na parede, encolheu um pouco a barriga, mexeu no cabelo, se aproximou mais ainda da imagem e conferiu se tinha surgido alguma ruga na madrugada.

Sentou-se na cama, com o lençol ainda em seu colo e pensou sobre o que Mauro propusera.Sentiu-se tentada e burlou todo tipo de culpa com pensamentos do tipo: “Não há de ser nada, vou só para ver o que ele quer dizer. Só vou matar minha curiosidade.Não vou trair ninguém, desde quando conversar com alguém é trair?Eu vou.”

Correu com as tarefas, deixou João na escola, voltou, tomou um banho demorado,passou um óleo perfumado no corpo, arrumou o cabelo e todo o resto.
13:45h saiu de casa.
Viu o carro de Mauro de longe e o coração não queria ficar só ali no lugar que era dele. Batia tão forte que parecia querer tomar parte de qualquer brecha que tivesse pelo corpo que pudesse ocupá-lo.A impressão é que ou ele sairia da boca em disparada ou que lhe causaria um infarto.
Entrou no carro.Se olharam e ficaram assim muitos minutos.O cheiro dele tomava conta de todo ambiente.
Ele tentou sorrir, mas não conseguia tirar seus olhos dos dela.
Ela o beijou.

Mauro correspondeu ao beijo e segurou-lhe o rosto. Fechou os olhos e mergulhou naquele beijo com toda a paixão e desejo que estavam contidos. A respiração de ambos começou a ficar mais ofegante quando ele agarrou-lhe os cabelos na altura da nuca e conduziu o beijo. Mordiscava-lhe a boca, beijava o queixo, beijava e cheirava,como que querendo roubar todo seu perfume, o pescoço.
Ela segurava nos braços dele com ímpeto e vontade de nunca mais largá-los, puxava-o para junto de si e beijava como se fosse a primeira vez em toda sua vida.
Ficaram assim por muito tempo.Quando deram uma trégua ao beijo, estavam segurando cada um o rosto do outro, bem próximo ao seu. E riam, riam baixinho, fechavam o olho e passavam o rosto um no outro e se cheiravam devagar.Como se estivessem se experimentando e se decorando.
Ela começou a contornar cada traço do rosto dele, ele fechou os olhos e pôs-se a sentir o toque das mãos que já havia imaginado sabe Deus quantas vezes.Ele abriu os olhos, recostou sua cabeça no banco e acariciou os cabelos dela, buscava mecha por mecha e sorria. Encostaram a mão uma na outra e as enlaçaram. Ela juntou a boca à mão dele e a beijou.Ele fez o mesmo com ela.

- Eu também pensei em você todos os dias, Mauro. Todos os dias. Pensei em nunca mais te encontrar, porque sabia que assim que o encontrasse de novo, seria minha perdição. Tentei me livrar de tudo que levasse meu pensamento até vc, mas descobri que para que isso acontecer, teria que me livrar da minha vida porque desde a primeira vez que te vi, tudo que há em mim se empreguinou de vc.

Ele sorriu de uma maneira maravilhosa, com os melhores dos sorrisos que há de existir e a beijou novamente. Quando se desvencilharam, ele brincou com a ponta do nariz dela , enquanto ainda estavam abraçados.

- Pois eu digo p/ vc que nunca mais, escuta bem: nunca mais a senhora deve pensar, supor, achar, que poderá livrar-se de qualquer pensamento que tenha eu como personagem principal. Ok, só os pensamentos ruinzinhos...de resto, Dona Lucila, transborde de pensar em mim pq é tudo que tenho feito.
- Mas acho que precisamos ir devagar.Você sabe das nossas condições e não dá para fingir que é tudo normal.
- Devagar? Ok. Nossa situação não nos permite vivermos já,nesse instante, tudo o que gostaríamos. Mas eu tenho um prazo.
Ela se ajeitou no banco do carro.
-Prazo? Não estou te pedindo nada, peloamordedeus...Mauro, não se precipite.
- Lucila,não estou brincando. O que estou sentindo agora é pouco perto do que eu previa o que seria estar com você.É uma avalanche de emoções, estou tomando por uma onda de euforia, de paixão.
- Paixão?
- Claro. Quanto tempo se demora p/ saber que está apaixonado? Qual a página do manual que indica isso? Aliás, me fala onde está o manual sobre “Tempo exato em que se apaixona – casos reais”. Amor – dessa vez encarou-a com toda docilidade – estou apaixonado por você desde a primeira vez que a vi e hoje só serviu para aumentar e me certificar disso. Não preciso desse tipo de subterfúgio para levá-la para cama, ninguém mais aqui tem 15 anos,hã? Por isso, tenho um prazo. O que estou sentindo por vc, nunca , nem de perto senti em toda a minha vida. Gosto da minha esposa, mas é de um jeito tão diferente, quase fraternal. Não posso ficar longe de uma pessoa que me deixa no estado em que você me deixa. Cheio de vida, de vontade de querer mais, de ir embora nesse instante para qualquer lugar, desde que seja com você.
- Tenho medo.
Mauro segurou com muita força, mas ainda com carinho,as mãos de Lucila.
- Não fique. Ei, olha aqui. Não fique.Lucila, seremos você e eu.Eu já tomei minha decisão, meu prazo é curto, é o tempo de vender uma casa que tenho no outro município e deixar algum dinheiro para minha esposa.Sou arquiteto autônomo, mas essa é uma profissão de vacas magras e gordas, altos e baixos.Hj estou com uma boa situação, amanhã pode ser que não esteja e talvez não possa ajudá-la.Por isso, prefiro reservar algum dinheiro para ela para que nunca lhe falte, é uma ótima pessoa. Mas você Lucila – falou enquanto acariciava seu rosto – você é um acontecimento. Nem me passa pela cabeça tudo isso ser absurdo, sabe? Porque o amor nunca é absurdo.
- Você falando de amor assim, parece algo surreal.
Ele soltou uma gargalhada descontraída.
- Eu sei, eu sei. Parece exagero meu e acho que corro o risco de te assustar. Vou tentar não te roubar em uma semana,pronto, vamos devagar.
Ela arregalou os olhos e ele depois de soltar outra gargalhada, a abraçou.
- Vamos ajeitar as coisas como devem ser.Vamos combinar tudo e fazer as coisas no tempo certo, espero não ser num futuro distante.
- Agora preciso ir embora.
- Claro, bonequinha. Ah, e você está linda, mais que o habitual.Linda. Perfeitamente linda!Amanhã me encontre na saída 3 do mercado “Caixa Bom”, assim que deixar o João na escola, combinado?
- Combinado.
Deram um beijo daqueles beijos de despedida que sempre são os melhores, cheios de vontade, saudade e anseios.Ele a beijou por último a testa.
- Volta logo. Só estou te emprestando, hein Lu?Vai.Desce, antes que mude de idéia – Abriu o sorriso faceiro e brincou - E não se esquece:Se não for amanhã, vai no meu velório no dia segte pq vou morrer!
- Louco! É isso que você é! Até amanhã!

Lucila saiu e depois de menos de dez metros olhou para trás.Ele estava do lado de fora do carro observando ela se afastar e acenou em despedida.Trocaram sorrisos.
Ela estava completamente eufórica e feliz.Caminhava rindo, lembrando de cada detalhe, de cada palavra, de cada toque ou cheiro. Sem dúvida também estava apaixonada.
Só saiu desse transe quando pegou o filho na escola e voltou para casa para receber o marido.Não se arrependeu do que lhe tomara a tarde e ficou a partir desse dia, escolhendo motivos para justificar sua traição.
Não conseguiu dormir à noite, tamanha expectativa de encontrá-lo de novo.Não deixou o marido tocá-la, achou que se permitisse não estaria pronta para Mauro no dia seguinte. Como se o enganador pudesse ser o enganado.

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